sábado, 28 de dezembro de 2013

Crítica: Skins [1ª geração]


"E se eu não estiver pronto para tudo isso?" pergunta Tony, em relação ao seu futuro, à sua namorada Michelle; "você meio que tem que estar" responde ela. A chegada da maturidade, a preocupação com o porvir e a aceitação de responsabilidades na juventude são apenas alguns dos diversos temas levantados por Skins, série britânica produzida pelo canal inglês E4. O programa conta as diversas histórias. relações e desventuras de um grupo de jovens ingleses convivendo diariamente com sexo, drogas e as adversidades da adolescência.

A 1ª geração - composta pelas duas primeiras temporadas - possui os mais ecléticos personagens: sociopata, anoréxica, gay, perseguidora, entre outros; cada um com os seus próprios dilemas e aborrecimentos. Essa mistura de personalidades e situações gera uma dinâmica difícil de se encontrar em outros seriados, embora filmes como O Clube dos Cinco e Jovens, Loucos e Rebeldes tenham capturado essa essência perfeitamente para o cinema, neste caso o fato de Skins ser uma série de TV que permite continuidade e sequência apenas melhora o produto final.

Na superfície, o seriado aparenta ser sobre um bando de desajeitados festeiros e drogados tentando se dar bem, e, em certo nível, realmente é. Existem, porém, muitos problemas e situações encontrados pelos personagens que são relacionáveis e espelham a vida real de muitos jovens. Um aspecto positivo de Skins para a sua audiência é que não existe tabu; o homossexualismo, a gravidez na adolescência e até mesmo o aborto são assuntos apresentados, e considerando que o público-alvo do programa é o juvenil, isso é um ponto forte.

Ainda que a série não seja completamente realista - algumas situações e ações são exageradas em favor da narrativa - é importante que exista alguma forma de entretenimento para jovens que também foque em temas polêmicos e complexos, não mantendo-se apenas a um tom simples.


Não será surpresa se no início o telespectador sentir aversão ou descontentamento com as ações imorais dos protagonistas, o mais surpreendente será se encontrar apegado a eles com a progressão e o desenrolar da série. A capacidade do programa de mudar o ponto de vista do público é notável, odiar um personagem e começar a amá-lo de um episódio para o outro - ou vice-e-versa - é na verdade bem comum em Skins.

A quantidade de desencontros, desentendimentos, términos, reconciliações e triângulos amorosos pode ser irritante, ainda que o seriado seja um drama adolescente e essas situações sejam praticamente obrigatórias, é muito incômodo ver dois personagens separados por alguma confusão que poderia ser facilmente esclarecida.

Tendo em vista o laço criado da audiência com os personagens, é também decepcionante que o desfecho da geração tenha deixado tantos finais em aberto ou simplesmente sem conclusão. Um final aberto pode ser usado bem, porém ao considerar que eram dedicados episódios inteiros ao arco dos personagens, não concluir os seus desenvolvimentos é um grande desapontamento, já que a próxima geração terá praticamente um grupo de protagonistas novos.

O elenco, aliás, é composto por um grupo de jovens atores ingleses promissores, se destacam: Nicholas Hoult (Jack, o Caçador de Gigantes e o Fera em X-Men) interpreta Tony, o manipulador; Dev Patel (protagonista do vencedor do Oscar, Quem Quer Ser um Milionário?) interpreta Anwar; Joe Dempsie interpreta Chris e Hannah Murray faz a anoréxica Cassie (os dois últimos aparecem em Game of Thrones).


Em termos de tom, Skins é muito similar ao filme cult Trainspotting de Danny Boyle. Em ambas as obras os seus protagonistas, embora sejam carismáticos, são usuários de drogas e festeiros. A grande diferença é que o foco principal de Trainspotting é o vício e as suas consequências, e Skins está mais ligado aos personagens e suas relações. A representação do uso de drogas na série, diferente de Trainspotting, é imparcial, não parece glorificar, mas também não condena; apenas retrata como a realidade de muitos jovens.

À primeira vista, era muito perturbante o quão sombrio alguns episódios podiam se tornar; overdoses, sequestros, tentativas de suicídio e mortes não eram raros. Os episódios mais descompromissados, como o que o grupo viaja para a Rússia, comemora o aniversário de Anwar ou vai acampar, eram muito mais agradáveis de se assistir e ficava a questão do porquê existiam tantas situações pesadas. Ao decorrer da série uma coisa fica mais e mais clara: Skins não é uma série alegre com momentos sombrios, é uma série sombria com alguns momentos alegres.

Faz sentido ser assim, a predominância da desesperança faz com que um mero instante feliz seja muito mais especial e único, e isso dá uma certa distinção e destaque a esses episódios. De uma forma estranha a vida também é assim, o ser humano está constantemente vivendo os momentos árduos para chegar aos momentos felizes.


Divertida, energética, bizarra, hilária, depressiva, intensa e, mais do que tudo, excêntrica. São apenas algumas das inúmeras características que podem ser atribuídas a essa estranha série sobre um bando de adolescentes carismáticos e frenéticos tentando entender a vida e a si mesmos. E foram apenas duas temporadas; faltam cinco.

Nota: 4/5




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